controvérsia futebolística

Alvalade, Sábado 8 de Abril.

Frente a frente os dois primeiros classificados do campeonato, num jogo que assumia contornos decisivos.

Os dois treinadores não planearam surpresas. Já se tinha visto do jogo da taça, o que ambos pretenderiam. Ainda assim, Adriaanse apresentou a enésima nuance no seu sistema táctico, jogando com Jorginho no meio campo, claramente com o intuito de dar a Custódio alguém que o fixasse, e impedisse mais uma opção de circulação de bola ao Sporting, quando os caminhos para a frente estivessem (e invitavelmente estariam) fechados. Ao mesmo tempo visava garantir uma maior posse de bola no meio campo ofensivo, não se entregando tanto a um domínio territorial do Sporting (que, pensava-se, o clube de Alvalade iria procurar).
O jogo comecçou com o Porto por cima, a fazer uma pressão no meio terreno do grémio de Alvalade, e a obrigar a equipa do Sporting a sair com bolas longas para o seu ataque (o chamado pontapé para a frente e fé em Deus).
Mas ao mesmo tempo que fazia isso, o Porto não criava perigo, poderão dizer que não lhe competia, mas o único local aonde havia espaço era nas alas, e o Porto sempre que podia metia a bola em Ricardo Quaresma à espera de um truque de magia que nunca aconteceu (Moutinho estava lá para ajudar e Abel saíu-se relativamente bem na marcação). Na defesa do Sporting Anderson Polga estava imperial e não permitia que ninguém jogasse na área do Sporting.
Por volta do quarto de hora, o jogo toma o sentido inverso, e curiosamente, nos mesmíssimos moldes. Espaço no meio não havia (estamos a falar de 8 homens fixos no meio campo, e com as ajudas dos avançados esse número crescia para 11 ou 12 - McCarthy era o único homem em campo sem preocupações defensivas).
O Sporting não tinha Sá Pinto (teve um último derby muito relaxante), Moutinho tinha que se conservar para tarefas defensivas, e portanto o cavalo de corrida era Carlos Martins. Foi através das suas acções que o Sporting se lançou para a frente e durante cerca de meia hora pôs o FC Porto em sentido. Nesse período o Sporting teve a grande oportunidade para marcar (desperdiçada por Moutinho numa rara incursão ao meio) e teve ainda um livre perigoso de Carlos Martins que Helton desviou para canto (calculou mal o GR do Porto, mas emendou bem a tempo). Chegámos ao intervalo, e já se pensava num jogo de muito baixo nível, sem grandes oportunidades, com o Sporting mais chegado à frente, e com um Porto pouco incomodado com isso. Não havia espaço para nenhum dos meio-campos jogar, e sendo essa a força do Sporting, tava fácil de ver que só com um golpe de génio o Sporting marcaria, porque o seu jogo nunca fluiu. Na segunda parte, o jogo morreu ainda mais. Quaresma e Martins não tinham capacidade física para continuarem a explodir de cada vez que tinham a bola, ambos arriscaram o segundo amarelo e foram as primeiras opções para a saída de cada um dos treinadores. Era um jogo para operários, estava mais do que visto. E por falar em operários, Sá Pinto operou uma entrada duríssima que só podia resultar em amarelo. E quando se pensava numa entrada conservadora de alguém para o meio campo, Paulo Bento manda entrar Douala e retira Deivid. A partir de então o Sporting passaria a apostar na velocidade do jogador para ganhar bolas nas costas. Só que o Porto nunca atacou, nem nunca deu as costas. Controlava o jogo (nesta altura já tinha mais posse de bola no meio terreno do Sporting e jogou sempre pela certa) e sabia exactamente o que queria do mesmo. Nem a expulsão de Bosingwa (ridícula, não havia necessidade) retirou este cariz ao jogo. E se durante a semana Paulo Bento tivera o discurso de que o empate não era mau para o Sporting, a 12 minutos do fim tira Abel e lança Koke porque o seu bluff não havia funcionado durante todo o jogo e o Sporting precisava mesmo da vitória. O Sporting só não tinha era como levar a bola até lá à frente. O seu meio campo foi manietado, não há volta a dar. Aí o grande mérito de Adriaanse, e o único homem que abalou esta realidade era um jogador que por norma não dura mais de 60 minutos em campo, e que com o esforço a que foi sujeito (tanto esticão, tanta aceleração) acabou a primeira parte literalmente deitado no relvado num misto de desolação e cansaço (imagem que conta toda uma história).
Bom, o Sporting esticou-se um pouquinho e o Porto (que já antes havia ameaçado por Jorginho - boa defesa de Ricardo) acabou por resolver através do mesmo jogador. Num lance em tudo identico ao de Moutinho na primeira parte, Jorginho colocou um ponto final no campeonato. Faltavam 5 minutos para o fim do jogo (dejá vu)... O Porto venceu bem. Foi mais equipa, interpretou melhor o que era preciso, e ficou a ideia que o Sporting não conseguia fazer mais. Paulo Bento tentou variar o ataque (da presença física de Deivid, à velocidade de Douala, ao transporte de bola de Koke) e para todas as variantes o Porto apresentou soluções e não vacilou um instante que fosse. O esquema de 3 defesas, que na verdade foram 5, é sólido. Se dúvidas houvessem, elas foram dissipadas. E se dúvidas houvessem quanto à melhor equipa deste campeonato, também elas foram dissipadas. Numa versão moderna do jogo do gato e do rato, a vitória sorriu ao Dragão. Ou foi o Dragão que sorriu à vitória?

O árbitro passou ao lado do jogo. Não teve influência nenhuma no resultado e só o achei demasiado rigoroso no segundo amarelo a Bosingwa. Acho que teve demasiada vontade de reequilibrar as contas.