segunda-feira, março 20, 2006

Sporting_10

Era o momento alto da semana, a assembleia geral do Sporting no Pavilhão Atlântico. Filipe Soares Franco tinha missão complicada, não a de convencer metade dos sócios, mas 66%. Sem eles, caía por terra o seu projecto e as eleições eram o próximo palco da vida do leão.
Vamos por etapas, antes de analisar o conteúdo da proposta de Filipe Soares Franco:

- Muitos dos sócios leoninos mostram-se actualmente desagradados com a permanente cooptação, realidade desde alguns anos naquela casa. Roquette entregou a Dias da Cunha, este a Filipe Soares Franco e a opinião do comum sportinguista ninguém a ouviu nem pediu. Num clube democrático isso não é saudável, nem muito menos normal.
- A negação da venda de património obrigaria a eleições, por promessa do presidente em exercício, logo quem queria exprimir na urna a sua opinião só podia votar contra, mesmo sendo apoiante de Filipe Soares Franco.
- Quem nunca acreditou na tese de falência, acredita na estabilidade e gosta de sentir que tem "algo no bolso" para quando precisa (essencialmente os sócios mais antigos), era contra a venda de património.

Todos estes sócios sentiram necessidade de exprimir a sua revolta e foram, indepentemente das condições climatéricas e do trânsito, a votos. Agora o que é verdade é que muitos dos sócios que estavam a favor da venda, não se mostraram determinados a ajudar a proposta a passar. É que, nestas ocasiões, quem reclama vai à praça pública, quem está bem, deixa-se estar em casa sossegado. E foi assim que, por uns míseros 2%, o património mantém-se verde...mas avancemos para a Assembleia propriamente dita, apenas por tópicos porque é dificil organizar um pensamento alinhavado sem ter acesso a toda a informação:

- Dias da Cunha foi vaiado. Afinal, não eram só os rivais cansados de o ouvir.
- Filipe Soares Franco foi aplaudido pela sua exposição interessante sobre a real situação do clube. Mas os insatisfeitos não mudaram de opinião.
- O actual presidente revelou também dados importantes e apresentou conclusões significativas: o projecto Roquette faliu (ausência notada a do ex-presidente), a venda da dívida aos bancos teve um custo (demasiado) elevado, 75 milhões de euros em juros, o património existente dá prejuízo pelos seus elevados custos e há urgência na solução de problemas financeiros a breve prazo.
- Acabou por ser pouca a campanha eleitoral: Dias Ferreira e Abrantes Mendes, candidatos (quase) assumidos não puderam falar, tal como muitos sócios anónimos.
- Com 64% de votação a favor, Filipe Soares Franco ganhou força para eleições. Se apenas 35% está contra as suas ideias, quando se chegar a eleições, parece que ele poderá suceder a si mesmo. mas o actual presidente não se irá candidatar, o que abre um vazio directivo. Aparecerá solução de ouro para o Sporting?

P.S. 1 - Ontem, Paulo Bento mostrou que a equipa não se mostrou afectada pela situação directiva. Jogou como tem jogado nos últimos tempos, determinada a ser campeã.

P.S. 2 - O jornal Record, numa das noites mais importantes, a nível organizacional do Sporting, esqueceu-se de lhe atribuír o merecido destaque e apenas publicou uma notícia no topo da capa. Foi, para eles, mais importante o que Mourinho opinou de Koeman...é isto a nossa comunicação social!

Comentários:
Kramer: a minha vénia pela oportunidade. Estava de facto mortinho por falar do que aconteceu...

Foi uma noite de grande frustação, em que pela primeira vez ganhou a minoria. A democracia tem destas coisas...

Em primeiro lugar, os meus parabéns pelo relato. Se não estiveste presente fizeste uma descrição muita próxima dos factos. Apenas umas pequenas correcções:

* Dias da Cunha foi de facto inicialmente cooptado, mas depois submeteu-se a eleições (penso que em 2002) em lista única, numa eleição com um nível de participação baixíssimo. A sua legitimidade enquanto presidente era total;

* Sérgio Abrantes Mendes chegou a falar. Fez uma intervenção serena e avisou que não ia fazer campanha. Manifestou-se a favor da venda, o que é espantoso pelas razões que apresentarei mais à frente.

Quanto à Assembleia, estava toda a minha gente (excpetuando Roquette). Todos os ilustres estavam presentes.

A Assembleia começou com uma fortíssima intervenção de Soares Franco, que discurssou durante 2 horas. Fez uma apresentação detalhada (e muito bem preparada) da actual situação do Sporting, talvez demasiado detalhada. Pintou um cenário negro (apenas com factos reais) e pagou caro por isso. Foram mais fortes o aplausos que os assobios. A maioria estava claramente com ele. O discurso foi sereno, aqui e acolá inflamado, mas ouvido com grande atenção pela audiência.

Factos:

* o SCP terá em Julho um défice de tesouraria de 15 MEur;
* as obrigações assumidas com o sindicato bancário a vencerem nessa altura serão de ~13 MEur só em juros;
* o racio de solvabilidade da sociedade é de 14% e do clube de 23%, ou seja, já não há mais garantias para dar;
* só no ano que vem começa o pagamento das rendas do estádio, a um ritmo de 5 MEur por ano;

Curiosidade:

* o estádio custou 170 MEur. Pago a 5 MEur por ano, levarão 34 anos (!!!) para ser completamente pago;

É esta a dimensão da tragédia.

No fim abriram-se as inscrições para as intervenções do sócios, e foi aqui que a coisa começou a correr mal.

Quando me levantei da cadeira para me ir inscrever (e estava na 3ª fila, logo atrás do Conselho Leonino), já Dias da Cunha estava a increver-se. Quando cheguei à fila tinha 70 pessoas à minha frente (incluindo Abrantes Mendes, Jesus Oliveira, Ribeiro Teles, José Eduardo Bettencourt e Dias Ferreira). Tirando os dois primeiros, nenhum conseguiu falar.

Rapidamente percebi que não me adiantava ter falado. Os discursos estavam todos encomendados. As pessoas levavam-nos escritos e liam. A assembleia apupava e assobiava todos eles, com especial veemência para Dias da Cunha.

Estavam 78 inscritos, e ao fim de 1:30 apenas falaram 19. Levaria no mínimo até às 6h da manhã para todos falarem.

À medida que os discursos avançavam a agitação subia de tom, até que uma proposta de passagem à votação foi por maioria aprovada. Mais ninguém conseguiu falar.

Mas Dias da Cunha ainda falou 2 vezes (aqui Galvão Teles esteve muito infeliz ao ter permitido).

E foi nestes discursos que se percebeu porque o projecto não passou. Muitos afirmaram em público que aceitavam a bondade e até a necessidade do projecto de Soares Franco, mas votariam contra por uma só razão: consideravam-no co-responsável pela situação actual.

E foi isto que determinou o resultado final. Os que votaram contra, não votaram contra o projecto, mas sim contra Soares Franco.

E apenas por 800 votos, o projecto foi chumbado. Há que perceber que foi uma clara minoria quem ganhou. Talvez alguns (poucos) sócios mais velhos e por isso mais conservadores tenham inviabilizado a proposta. Há que referir que no SCP cada 10 anos de antiguidade dá direito a mais 3 votos. Eu por exemplo tenho 7 votos. Por causa disto e da regra dos 2/3 a proposta chumbou, apesar de 64% votos a favor.

O que é mais dramático em tudo isto é:

* o Sporting precisará de uma injecção de capital da ordem dos 30 MEur a curto prazo;
* o plantel está avaliado em 60 MEur, ou seja, só a venda de meio plantel supriria esta necessidade;
* só Liedson, Deivid, Moutinho e Nani não chegariam para o défice de tesouraria;

e o pior que tudo:

* quem vier a seguir, terá de apresentar a mesma proposta aos sócios, pois é a única solução.

Esta foi a noite em que alguns sócios do Sporting prefiram trocar o futuro por um centro comercial e um edifício de escritórios.

Deus nos acuda.

Suadações Leoninas
 
Era de facto muito grande a expectativa para esta Assembleia. Uma expectativa que contudo advinhava uma votação favorável para as intenções de Filipe Soares Franco. Varios eram os jornais que apontavam para uma vitória na casa dos 70%.
Eu era dos que pensava que assim seria. Aproveitando a posição que ocupa, Filipe Soares Franco, com os meios `que o clube proporciona desde muito cedo que começou a sua campanha presidencial e foi muito claro: "ou o meu projecto vence a votação, ou então eu demito-me e não me candidato nas proximas eleições".
Claro como a água, frontal, desafiodor. Na minha opiniao assim teria de ser. Porque se o seu projecto nao passasse, como poderia governar tendo por bases tudo aquilo que contraria os seus principios e os seus conceitos de gestão?? Aguarda-se para ver se realmente Filipe Soares Franco é serio e coerente ou se Dias da Cunha tem razão.
Dias da Cunha que é um homem sério. Tem os seus vaipes, mas é um homem de principios e honesto. E é para mim credivel o que me ficar de pé atras quando ele afirma o que afirma. Eu por principio sou a favor desta venda de patrimonio, mas questiono se realmente o cenário é assim tão negro.
Uma coisa é certa, este quadro que Filipe Soares Franco, Bettencourt, Ribeiro Telles (entre outros no meio de tanto notáveis) pintam , é no fundo a prova que o Projecto Roquete foi um flopp!! O Projecto Roquete para alem dos objectivos desportivos em termos de vitorias no campeonato e investimento na formação com consequente criação de uma Academia, assentava também numa estrutura empresarial tipificada, que acarretou uma estrutura administritativa e de staff pesada bem como no investimento naquilo que vai ser agora vendido (Alvalaxia, CUF, Homesplace). Roquete queria gerir, rentabilizar outras empresas no universo Sporting, mas falhou redondamente. Investiu, investiu e agora o Sporting está como está. A sua ausência na Assembleia não é inocente, sabe perfeitamente o que está em causa, mas também sabe que quem lá está no poder, está porque foi ele que lá os pôs e sabe que jamais será posto em causa pelos demais.
Tendo todo o lobby dos notáveis a favor da venda, sempre pensei que aquela eleição estava mais do que ganha!
Não percebo contudo a condução da mesma! Vive-se numa democracia, e Filipe Soares Franco falou 2 horas e outro com papel importante, tal como o ex-presidente e 3 candidatos presidenciais pouco ou nada falaram!! Dias Ferreira não falou! G.Lemos não conta. Abrantes falou pouco. Dias da Cunha falou , mas um ex-presidente (saiu á 6 mesesu devia poder falar mais de 5 minutos!!
Continuo com a opinião que fizeram a cama a Dias da Cunha, e que tudo começou com a questão do Manifesto em que Ribeiro Telles saiu e algum tempo depois saiu Bettencourt.
Destes 3 (Filipe Soares, Ribeiro Telles , Bettencourt) sairá o candidato do lobby. Aposto mais nos 2 primeiros.
 
Não estive presente mas tinha "emissários no terreno". eheheh.
Bom, a situação de qualquer clube português pode sempre ser pintada como negra. Filipe Soares Franco aproveitou-se disso e adaptou as coisas à sua maneira mas, como tu dizes, foi atrás porque também ele está implicado no afundar do navio.
Quem não se safa disso é...Roquette. O notável gestor aclamado durante anos é hoje acusado por alguns de ser o pai do défice. Na realidade, a serem verdade os números apresentados, o seu projecto falhou. Apesar disso, as coisas positivas que trouxe ao Sporting jamais poderão ser esquecidas (2 campeonatos e uma academia, entre outras coisas).
Não creio que nenhum dos 3 se candidate: Soares Franco já disse que não, Telles e Bettencourt, pela forma como saíram, deveriam ficar em casa.
Acredito noutro nome apoiado pelos 3.
 
Caro Santinni:

Ser-se sócio implica responsabilidades, como por exemplo suportar parte das receitas do clube. Não se é sócio para se ter benefícios. Antes pelo contrário, tem-se benefícios porque se é sócio.

Mais algumas notas de rigor:

* não é a empresa de José Eduardo Bettencourt que ocupa o edifício do Visconde mas sim a OPCA, empresa gerida por Soares Franco, que por tal paga rendas a valores superiores aos de mercado, beneficiando assim o clube;

* o staff que cometeu os erros que aponta "não está lá". Foi destituido da SAD (e não do clube, perceba a diferença) com a saida de Dias da Cunha (falo de Paulo Andrade). A actual equipa de gestão promoveu as entradas de Paulo Bento e Carlos Freitas e recompôs a equipa com os resultados que se conhecem;

Quanto ao ter ou não ter 15ME, parece-me que o senhor ainda não percebeu que não são os candidatos que têm de "ter" esse dinheiro, mas sim o clube. Os candidatos promovem medidas de gestão para garantir esses financiamentos, com os recursos do própriop clube. Soares Franco foi o único a propôr um projecto que visava encaixar 50 MEur no curto prazo para o Sporting. Dos outros candidatos não se conhece mais nenhuma alternativa, pelo simples facto de que não existem.

E das três uma:

* ou o clube consegue gerar esses valores (e actualmente não consegue);

* ou financia-se novamente, o que já não é possível porque não há mais garantias;

* ou tem de vender alguma coisa. Como não se aceita a venda do imobiliário não-desportivo, então tem de se vender jogadores.

É por isso que estou convencido que qualquer candidato que ganhe as eleições vai ter de voltar a propor a mesma venda de património.

Tudo o resto ou é mal-informação ou é demagogia.
 
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