controvérsia futebolística

Duas semanas em Espanha e habituei-me a viver mais a "La Liga" que a "Superliga". No fundo, os nomes estão trocados. Aqui vive-se o seu clube de forma intensa. O povo sevilhano está dividido. Aqueles com quem tenho lidado são 95% de uma das equipas da cidade (só o meu chefe é do Real Madrid por isso...Força Galácticos!!). Bétis e Sevilha são adorados nesta cidade. O meu formador e colega Paco é do Bétis. Era habitual frequentador do estádio, tinha carnet e tudo. Mas começou a viajar muito e perdeu a vontade de ir ao estádio. Ainda se lembra de Finidi, Vidakovic e Cuellar. Diz-me que aqui é muito importante ter jogadores da cidade no clube. Há um gosto muito grande nisso, é como se fosse "o vizinho do lado a jogar por nós". Tanto que é assim que o canal de televisão andaluz dá-se ao luxo de, no resumo do Deportivo-Getafe, falar em Romero como sendo um jogador andaluz!! Aqui, a região é venerada.
Ao fim de um par de dias conheço o "homem-para-todo-o-serviço"do hotel. Juan Ramón é um velhote simpático, com 51 anos. Diz-me que apita jogos regionais, ganha 36 euros por cada jogo que apita e que, até ao ano passado, jogava numa equipa de veteranos mas uma lesão na rodilla (joelho) afastou-o da bola. Conta-me também que nunca teve propostas para receber por fora e que um árbitro da 1ª Liga ganha cerca de 6000 euros por mês. Fala em Calado e Joao Tomás mas as palabras não são de apreço. Adepto assumido do Bétis, já não vai ao estádio porque os bilhetes são caros e tinha que levar os 2 filhos. Constatei os preços elevados ontem: Sevilla-Saragoça, bancada central, tipo "3ºanel": 50 euros. Não ia com esse intuito mas, enquanto esperava na fila, um velhote vem ter cmg e pergunta-me para onde quero ir. Digo-lhe que é para um lugar que vale 40 euros.Ele diz-me que tem um lugar melhor e que me faz desconto. Desconfio, mas outro tipo que está na fila assegura-me que o homem é de confiança. Explica-me que tem um desconto nem sei bem porquê (os gajos falam muito rápido) e até me dá o cartão profissional! Descontos em futebol, touros e teatro!! Acedo à candonga do Joaquin Polo à beira da bilheteira mas como sou tuga não faz mal. Não espero um estádio com muita gente, 5ª feira o Sevilha jogou para a UEFA, empatou 0-0 e leva 4 jogos seguidos sem ganhar (3 em casa). As ruas estão quase desertas, tudo o que é comércio está fechado (menos comidas). Perto da hora do jogo, começa a romaria. Impressionante: o estádio quase que enche. Perto do meu sector chegam duas centenas de crianças! Certamente um acordo com alguma escola, algo de que já falámos aqui no blog. O jogo começa, o apoio é grande mas nota-se insegurança dentro de campo. O Saragoça marca e constato que o estádio é (quase) todo do Sevilha! Penso que vi 4-5 pessoas levantarem-se. Certamente, não estavam mais de 100 pessoas do Saragoça. O Sevilha não consegue virar o resultado e perde. (Poucos) Lenços brancos nas bancadas e 5 jogos seguidos sem ganhar. Circulo pelo estádio e constato outra coisa: as pessoas têm acesso aos balnearios dos clubes! Algumas pessoas aguardam a porta: namoradas, adeptos insatisfeitos, tugas curiosos. Fui embora.Ontem jogava o Barça. Como estava em Sevilha, vi o jogo de pé, ao balcão, num bar. Chega um velhote (curto velhos pá!) e põe-se à minha frente. Já nem sei bem porquê começamos a falar. É do Barça pergunto eu? Diz-me que sim. Seria o homem andaluz? Não, tou só de visita. Sou catalão. Daí até falarmos na final de 1979 com o Steaua ou até na ditadura de Franco foi um instante. Aquele homem respirava futebol. Conta-me que deixou de ser sócio do Barça no tempo de Van Gaal, que sofreu com o “pesetero do Figo” e que Ronaldinho brinca de mais. Falamos na minha formação que me levará a Barcelona. No final do jogo, dá-me um cartão seu com telefone e e-mail. “Antes de ires para Barcelona avisa-me. Faço questão de te levar ao estádio”...