terça-feira, novembro 09, 2004

CLÀSSICO_3

O jogo apresentava contornos especiais. Por um lado tínhamos o FC Porto a jogar no Dragão e portanto seria sempre favorito. Por outro, passava a ideia de que o Sporting atravessava um melhor momento de forma (e passava muito bem).
Olhando para a constituição das equipas, pareceu claro a todos que não havia grandes surpresas. Entrou Beto no Sporting, no Porto não haviam novidades.
O Sporting estruturou-se num 4-4-2 , o Porto abandonou este sistema (que utilizou em todos os jogos grandes...) e apresentou-se em 4-3-3.
A vantagem do Sporting parecia clara. Um meio campo forte, musculado, com mais unidades, que lhe permitiu controlar o andamento da partida durante cerca de 35 minutos da primeira parte. Costinha não sabia muito bem com quem haveria de se preocupar, Diego não se libertva da dupla marcação de Rogério e Custódio, e Maniche neste momento é amorfo e sem dinâmica, limitou-se c ontrolar o raio de acção de Hugo Viana (já terá tido por certo tarefas bem mais complicadas). O Sporting apostava na solidez a meio campo, e na qualidade de passe destes 4 elementos para sair rapidamente para o ataque. Mas não era dia de Douala e Liedson... A defesa do Porto chegou e sobrou para as encomendas, e ao mesmo tempo que se via um Sporting dominador, também ficava claro que dificilmente conseguiria um golo... É a tradicional muita parra e pouca uva.
O Porto, entregou o jogo ao Sporting, procurando talvez explorar a rigidez dos seus laterais, e algum défice de velocidade do Sporting... Também não funcionou. Raramente tinha a bola nos pés, e a superioridade do Sporting a meio campo permitia libertar um desses elementos para fazer dobras, quer à direita, quer à esquerda. Quaresma não se libertou, Derlei à esquerda não se liberta e McCarthy ia aqui e ali dando conta da sua presença, mas perigo propriamente dito não havia. De qualquer maneira pairava no ar a sensação que quando o FC Porto acelerasse, o caso mudaria de figura... E a aceleração do Fc Porto só podia passar por um lado: Os laterais. E nesse aspecto, a substituição forçada de Ricardo Costa por Areias acaba por beneficiar a equipa da casa. Com a subida dos laterais, os médios interiores do Sporting começaram a abrir para as alas (a marcação tinha que ser deles), e o espaço no meio campo começou a aparecer. Foi isto que se viu, quer no final da primeira parte, quer depois na segunda parte. E o FC Porto cresceu, cresceu, cresceu, ao passo que o Sporting ficou mais preocupado em conter os seus ímpetos, deixou de sair para o ataque (talvez por falta de dinâmica dos homens do seu meio campo, bons jogadores, mas à parte de Rochemback, todos muito estáticos) e perdeu o controle do jogo.
Aqui surge o primeiro erro de José Peseiro... Com o Porto constantemente a sair a jogar pelas alas, através dos seus laterais, a solução nunca odia passar pelo sacrifício da coesão a meio campo, mas antes por pedir a Liedson e Douala que oscilassem e impedissem eles a saída pelas alas. Quando o Porto sai a jogar nas alas, Costinha recua mais para junto dos centrais, para abrir linha de passe e também para prevenir alguma perda de bola (Esteve bem Fernandéz... A sua ideia era essa desde o início, mas a incapacidade de Ricardo Costa, impediu-o de fazer valer a estratégia... ou seria?). Como Costinha recua é perfeitamente possível ser o médio mais avançado da equipa adversária a impedir a progressão pelo meio... E como os laterais são estorvados pela acção dos avançados, raramente passam do meio campo, a bola tem que seguir para o central e a progressão faz-se pelo meio... onde o SCP tinha vantagem. Peseiro pediu aos homens do meio campo para fazerem essa cobertura. Diego agradeceu, maniche soltou-se, e até Costinha ficou mais solto das marcações que deveria fazer.
O Porto cresceu, sem culpa nenhuma dos erros de Peseiro, e sobretudo porque foi muito sagaz na leitura que fez da partida. Esperou pacientemente, e pôde fazê-lo porque do domínio do Sporting ressaltava que nenhum perigo imediato iria resultar para si. O Sporting foi previsível... E a defesa do Porto controlou facilmente os seus pontos fortes (velocidade de Liedson – 20 foras de jogo – e Douala).
O Porto marcou, naturalmente (quando o golo surgiu, era uma coisa tão esperada, que o marcador das Antas já o tinha assinalado antes), e Peseiro entrou em PÂNICO (com letra grande) e fez a substituição nula (nula porque tacticamente não significa absolutamente nada). Miais valia estar quieto. A sua substituição não trouxe velocidade (foi Douala por Pinilla), não trouxe poder de choque, não trouxe jogo de cabeça, porque não havia alas, não trouxe mobilidade... enfim não trouxe nada. Foi puro pânico. Entrou um ponta de lança, pronto!! Os jogadores do Porto controlaram cada vez mais o jogo, e a seguir Fernandez desferiu um golpe de génio!! A entrada de Carlos Alberto para a saída de Quaresma... Como o Sporting não tinha alas, Seitaridis era livre para fazer o corredor direito, CarlosAlberto equilibrou as contas a meio campo, e ainda garantia com a sua velocidade e imprevisibilidade um terceiro homem no ataque. Derlei cai no meio e obriga ao recuar do trinco do Sporting (porque não se pode jogar 2 para 2 no meio), o ascendete no meio campo acentua-se e na altura lembro-me de ter pensado: “Ainda marcam mais dois ou três.”. Ah, e única maneira que o Sporting tinha de contrariar isto era subir os laterais... Enakarhire (subir só em altura...) e Rui Jorge (bom jogo, mas subir, só em sonhos). Mas nem isso Peseiro lhe pediu... E ainda bem porque teria sido embaraçoso. E a saída de Rochemback... cruzes, credo...
O Porto ganhou porque foi melhor em todo o lado, no campo, na inteligência, na cabeça dos seus jogadores e até no banco.
Queria referir um outro aspecto... A atitude dos jogadores do Sporting. Pareciam uns profetas em campo, sempre dispostos a dar a outra face. O único que combatia fogo com fogo era Fábio Rochemback (e Beto, embora este o fizesse de forma pouco inteligente). Depois, a seguir ao golo do FCP os jogadores do Sporting perderam por completo a cabeça, rematavam de todo o lado, entravam às pernas dos adversários, reclamavam com os árbitros (mesmo quem já tinha amarelo...). Enfim, se Fernandéz se queixa de falta de maturidade, Peseiro pode dizer que os seus ainda nem nasceram... o problema é que eles podem dizer o mesmo dele.

Comentários:
"Epá" o que é que se pode escrever aqui???!!
Acho que nada!!
Está um texto, uma dissecação técnco-táctica, absolutamente brilhante!!
Não há nada a dizer!! Nada a apontar!!
Quanto muito, idem, idem, aspas, aspas!!
Grande Texto!!
Agora sim, Van´s!!! Muito Forte!!!!
 
Epá, muito bom mesmo! Os meus parabéns Vantunes. Grande qualidade de escrita e de análise à partida.
É um facto que Areias (não ele, mas sim a sua movimentação) veio ajudar e muito o Porto. É que os médios ala do Sporting não eram suposto existir. E quando devia lá estar alguém eram os avançados. Quando foi necessário Rogério e Viana encostarem nas faixas, o Sporting fragilizou-se. Imediatamente antes do golo Peseiro chamou Pinilla. A substituição estava pensada com 0-0. E Peseiro manteve-a com 0-1. O grande mal de Peseiro foi não ter alterado nada do que tinha planeado antes do encontro. Fernandez alterou ao intervalo o posicionamento de Diego (palavras dele) e com isso o Porto melhorou (juntamente com os laterais a subir). Começou a pressionar aos 54', marcou aos 57'...Peseiro inventou! trocar Pinilla por Douala não é deixar tudo igual (ele pensa que sim). É perder o ataque todo. Pinilla na ala esquerda não pode produzir. E depois tirar Rochemback e Viana (os dois motores da equipa nos últimos jogos) para lançar Carlos Martins (muito bem) e Pedro Barbosa (que lhe aconteceu?) foi troca por troca. Grave é estar a perder, deixar em campo 6 jogadores de carácter puramente defensivo e sofrer 2 golos daquela maneira (1 numa situação de 1 para 4, outro numa situação de 3 para 2). O mais grave é a atitude dos jogadores e essa terá repercussões no futuro. O resultado esquece-se rápido...
 
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