controvérsia futebolística

O Real continua em crise. Quem viu o jogo de sábado, viu uma equipa amorfa, sem garra e sem força anímica. As alterações de Camacho não deram resultado, mas o problema é mais profundo que estas duas derrotas. Quando até Camacho reconhece que o balneário é individualista, é porque algo de grave se tem passado. Certamente, a chegada de Beckham o ano passado foi determinante para o estado de coisas. Não duvido da determinação deste em trabalhar e em se adaptar durante a época transacta, mas deitou tudo a perder quando mandou Queirós..."passear" após ser substituído. A contratação de Owen e Woodgate (não pondo em causa a sua qualidade) quase que me deixa a pensar que estes serviram para dar companhia a Beckham durante treinos e estágios...O maior erro de gestão de Florentino nem foi a compra de Beckham, nem a de Owen. Foi a venda de Makelele. E ele merecia receber (quase) tanto como as vedetas. Numa empresa, os serviços administrativos só dão despesa, nunca geram receitas. Mas não é por isso que deixam de ser um sector fundamental da organização. Camacho vai passar um mau bocado, essencialmente porque Zidane, Ronaldo e Raúl estão longe da forma que era habitual neles; porque Samuel só tem comprometido e não parece ser a 4ª roda do Ferrari; porque Helguera não é "carne nem peixe" (nem central nem médio); porque Beckham está sem vontade de jogar no meio e trabalhar; porque os jogadores nem devem falar entre si; porque sim...
Horas depois de escrever estas linhas, o (in)esperado acontece: Camacho demite-se dizendo que não tem capacidade de dar "a volta ao texto". Quem conhece Camacho, um homem de trabalho, pessoa de não virar a cara à luta, vê-lo tomar uma decisão destas é porque o balneário do Real Madrid deve ter algo de surreal. E agora podem-se levantar muitas questões sobre Camacho: uma delas é dizer que desistiu ou que não aguentou a pressão. Ora bem, quando Queiróz foi despedido, algumas pessoas (inclusivamente pessoas próximas dele) vieram dizer que, pelo estado das coisas, o melhor que Queiróz tinha feito era despedir-se em Janeiro ou Fevereiro, altura onde ainda poderia ganhar todas as competições. Queiróz iludiu-se e foi traído pelo seu sonho. Camacho fez o oposto: reconheceu a sua incapacidade (leia-se de "domar" aquele balneário) enquanto foi altura. O único jogador que o veio defender (ainda antes de se demitir) foi Roberto Carlos, jogador que só ficou no Real porque Camacho lhe pediu. O capitão Raúl nada declarou e penso mesmo que de verdadeiro capitão deve ter muito pouco. Dizer-se que Camacho foi cobarde, quanto a mim, é errado. É errado porque Camacho mostrou no Benfica que, mesmo quando o presidente lhe mentiu (ao prometer reforços de qualidade e a não trazer ninguém), Camacho não abandonou o barco. E tinha tudo para o fazer...Ora, no Real deverá ter sido o inverso: o presidente prometeu-lhe trabalhadores e trouxe-lhe...Owen. Mas os problemas são muito mais graves que isso. É que, no balneário, também se ganham jogos.